Os erros cometidos na fala do senador

Essa expressão faz parte de um grande lote de frases prontas e que estão no nosso inconsciente (ou consciente) e que usamos sem dar conta do seu peso semântico.

Gramaticalmente dizer “Se ponha no seu lugar” está errado. A língua culta pede que não comecemos uma frase com um pronome oblíquo átono. O correto é “Ponha-se no seu lugar”. No dia a dia escrevemos “Te ligo mais tarde”, mas está errado. Escreva “Ligo para você mais tarde”

Outro aspecto é semântico. A frase pede que a pessoa volte ao seu lugar, não ao lugar geográfico, físico, mas ao seu espaço social, ao seu lugar na sociedade.

Quem coloca a frase pede geralmente que a outra pessoa volte “à sua pouca significância”.

Mudando um pronome na frase muda tudo. “Ponha-se no meu lugar”. Neste caso pede ao interlocutor uma reflexão sobre a situação, transformando-se em uma expressão com sentido empático.

Detalhe é que a frase foi usada por um senador dirigindo-se a uma ministra. Neste caso carrega ainda uma conotação misógina, machista.

Outro aspecto é que o verbo “ponha-se” está flexionado no imperativo, que etimologicamente remete ao latim “imperativus”, a mesma raiz de imperador, que é quem manda.

Por sinal, se trata de uma peculiaridade da nossa língua portuguesa. Usamos imperativos sem nenhum pudor. “Entre por aqui”, “Traga um refrigerante”, são expressões comuns.

Depois o senador disse que não queria dizer exatamente aquilo. E talvez até não tivesse mesmo a intenção e usar uma frase com potencial de uma agressão dura. Mas em análise do discurso, como defendia Michel Pêcheux, é pouco relevante se a pessoa pretendia ou não dizer, mas sim os efeitos de sentido provocados. E neste caso foram bem negativos.

Ainda mais em uma casa chamada Senado, que vem do latim senãtus, que significa conselho dos anciãos, dos sábios, de quem (em tese) detém não só o poder, mas também a sabedoria e o conhecimento.

Veja mais em:

Deixe uma resposta