
A influenciadora Virginia Fonseca, na CPI das Bets, usou vários recursos de manipulação no sentido de desvincular sua imagem de um segmento da sociedade que tem relação com histórias de frustrações e vícios, no caso as apostas.
Analisando a imagem da influenciadora na comissão do Senado pode-se observar que buscou parecer ingênua.
Em 1920 o psicólogo americano Edward Thorndike descreveu o que se chama de efeito halo. As pessoas tendem a formar opiniões gerais sobre uma pessoa com base em uma ou algumas características, sejam positivas ou negativas. E essa impressão inicial pode influenciar como as pessoas percebem e avaliam outros aspectos relacionados à pessoa.
Uma rápida busca por imagens na internet mostra que as aparições comuns de Virginia são sem óculos. Mas no seu depoimento, apareceu com óculos, que geralmente sugerem uma certa intelectualidade. Os cabelos soltos, escorridos, sem escova e a pouca maquiagem podem induzir a um aspecto de espontaneidade, naturalidade, sem o apelo sensual, comum da influencer.
A expressão mais relevante foi a roupa, um moletom com a imagem da filha Maria Flor, procurando indicar que seu personagem tem uma preocupação com a família, as crianças. O copo da marca Stanley, na cor rosa, sugere um aspecto mais feminino, porém com certo status (a marca do produto é conhecida por um alto preço). Procurou-se dessa forma transmitir uma imagem infantil, o que poderia demonstrar ingenuidade.
O uso da expressão “Que Deus abençoe nossa audiência e bora pra cima”, usada no início da sessão, trouxe várias marcas relevantes no discurso. Há uma invocação da questão divina, sugerindo um espírito cristão, religioso, mas também transformando a sessão legislativa em um evento midiático espiritualizado, e dando a este um tom informal (“bora pra cima”), mais próprio de conversas das redes sociais.
A estratégia funcionou ou não? Em análise do discurso busca-se sempre analisar quais os efeitos de sentido provocados em quem as recebe. Pelo menos por enquanto é difícil analisar como foi a recepção pela sociedade, pelas pessoas, desse discurso e suas manipulações.
